quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Os Outros Assuntos.




Nesta entrevista, o cientista cabo-verdiano toca, ao de leve mas o suficiente para percebermos muita coisa de dois assuntos para mim da maior importância: a total displicência com que os cabo-verdianos deixam delapidar o património genético da purgueira, este e outros, e o desprezo e abandono a que vetaram esta histórica e preciosa planta, não lhe dando qualquer importância.
De facto, falar de energias renováveis hoje está na moda e é chique. Eólica e foto voltaica são palavras que ficam bem e fazem dos políticos pessoas modernas e futuristas. A meu ver o interesse é grande porque o negócio é muito rentável para poucos, não tenho dúvidas.
Pelo contrário, falar da purgueira é falar do passado e sobretudo tem dois problemas pouco interessantes para a política, o primeiro é que os resultados levam tempo a aparecer e o segundo, é que o negócio tem que ser dividido com o todo o povo rural de Cabo Verde. É só por isso que os políticos, todos, assobiam para ar quando se fala da purgueira (Jatropha curcas) para a produção de uma parte substancial da energia que o País necessita.
O cientista prefere não falar do assunto. Percebe-se porquê.

domingo, 22 de agosto de 2010

Dependências.


Ontem acompanhei até onde pude um debate na TCV sobre cultura. Para mim foi uma surpresa. Citou-se as palavras Estado, apoio e subsídio tantas vezes por "minuto quadrado" que perdi a conta. Pensei que isso fosse um vício apenas das pescas.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Morder O Anzol.

(clique na imagem para aumentar)

Este artigo publicado no Jornal Expresso das Ilhas impresso nesta semana é muito interessante. O autor escreve sobre um comportamento, na minha opinião, inerente a todos os ministros que tutelaram o sector das pescas. O actual e os anteriores. A tentação é grande sempre que há maré de eleições. Acredito, mas também é só uma opinião, que o actual Director Geral das Pescas tem mesmo vontade e intenção de tornar útil ao País os excelentes conhecimentos que aprendeu, não fosse ele da geração que está a chegar mesmo a calhar.
Digo isto porque os pescadores, os nossos e muitos outros, sabem muito bem pescar no mar e em terra. E sabem-no há muitos anos.
Eles sabem que o Estado é que depende deles e não o contrário. O Estado necessita dum “sector das pescas”, de estatísticas, de apoios internacionais, acordos, simpósios, justificação para uma ZEE, e tudo o  mais que se relacione com pescas. Como se não bastasse, eles sabem que o partido que, legitimamente, governa em qualquer momento tem necessidade dos seus votos como de pão para a boca.
Então tudo é fácil, basta iscar um anzol com queixas e problemas: frigorifico cá tem, gelo que falta, bote piquinote, motor fraco, anzol cá tem, corda é curta, linha é fina, mala pouco e por aí fora. Conclusão, todos os governos morderam o anzol.
Mas o interessante é que isto não rende nenhum voto, ou talvez um ou dois mas sem qualquer importância, simplesmente porque como todos os governos (partidos) se comportam da mesma maneira apenas, eu pescador, armador, operador, ou seja quem for, preciso tão só de bater palmas pelos “apoios” ou “contemplações” e depois voto em quem quero, sem espinhas. Nada muda, nem tão pouco os pescadores estão interessados em mudanças.
Para falar mesmo verdade, não sei se haverá alguém interessado em mudanças.
Mas como a mudança é um imperativo do futuro e não para hoje, seria muito bom que ela, a mudança, começasse pela maneira de pensar as pescas que vem “de cima”. Primeiro o governo tem que pensar nas suas obrigações: fazer cumprir a Lei e criar, de uma forma determinada, os mecanismos para que o pescado seja introduzido no mercado em excelentes condições e junto com esses mecanismos os sistemas de crédito e cobrança.
Depois quem quiser pescar que pesque. Os anzóis vendem-se na loja e se na loja forem caros façam uma cooperativa, se quiserem. Agora, pescarem-se uns aos outros é que não leva a lado nenhum.

domingo, 15 de agosto de 2010

Colecção Nus É Coitado.


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Duvido.


Também pode ser uma estratégia, distribuir malas térmicas e outros apetrechos para provocar um ajuntamento e aí aproveitar para se dizer coisas que de outra forma não surtiriam efeito. Não está mal pensado, só falta saber se alguém as quer ouvir, ou se as ouve, porque há coisas, sempre as mesmas, que se dizem há anos e… nada acontece.
Já agora gostaria de perceber para que serve uma “associação de pescadores e peixeiras”. Será para concertarem os preços do pescado? Não vejo outro fim.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Remar É Preciso.

Tempos houve em que o peixe tinha preço garantido e era pago mesmo antes de ser capturado. Bons tempos esses que não voltam mais. Tudo era simples, grande e eficaz, nem era preciso fazer muitas contas e as poucas que se faziam batiam sempre certinho.
Depois o mundo mudou não deixando nada garantido, os barcos entretanto apodreceram, as estruturas caíram aos bocados, cada um salvou o que pôde. Mas duas coisas houve que não mudaram: a nostalgia desses tempos e o apego do Estado pelo que ainda resta dessa época que o transforma um pouco em bombeiro das crises dessa agonia que de vez em quando vem à tona.
Na altura ninguém tinha dúvidas, de resto era uma coisa que ficava feio para quem mandava. Hoje não é tanto assim, mas não deixa de ser interessante observar que pouca coisa mudou.
Agora há eleições e por isso os governos mudam e os poderes alternam-se, mas no essencial a concepção para o sector das pescas não mudou, a ideia de que o Estado deve ser o “pai-de-todos” e o “mata-piolhos”.
Sempre que há uma mudança de governo anunciam-se “novas” medidas para o sector. Mais apoios, mais encontros, mais dinheiro disponível, mais de tudo. Numa dessas alternâncias o governo até “decretou” a proliferação de cooperativas de pescadores para que pudessem existir proprietários para os muito barcos mandados construir com dinheiro vindo de todos os lados. Foi mais um momento de prosperidade para intermediários, funcionários ditos técnicos, pescadores, peixeiras e até imprensa. Mas não passou mesmo de um momento, tudo acabou tão depressa como foi pensado.
Uma longa lista de “medidas” tomadas poderiam servir de exemplo e outra extensa lista de “medidinhas” contemplando generosas ofertas de linhas e anzóis fizeram do sector das pescas uma espécie de biblot do Estado. Parece haver perguntas proibidas que não se fazem porque muitas outras também nunca se fizeram, como por exemplo, para que serve o INDP? Ou, para que servem as muitas estruturas de pesca doadas pelas cooperações, e que nunca chegaram a funcionar para os fins que deviam?
Esta dormência faz com que o sector esteja sempre à espera que surjam novas e mágicas medidas. Até os deputados no Parlamento falam em tom altivo e o dedo em riste parecendo guardar segredos e medidas que só serão revelados na volta do próximo governo. Há dias uma associação de armadores “queria respostas do governo” sobre respostas que eles próprios não dão. Histórias que nunca mais acabam. Outro exemplo, umas beneméritas cooperações de mãos dadas com o governo ofereceram há meses dois botes “fibrados” de boas dimensões a duas comunidades piscatórias, nenhum deles pescou ainda um carapau, um está fundeado e mete água porque a fibra de vidro não chegou para tudo e o outro está em terra e ninguém o quer montar porque, dizem, tem “mau-olhado”. Mas foram momentos de glória com a entrega, o baptismo e os discursos.
Está na hora do Estado deixar-se de nostalgias, folclore e intervenções inúteis e pensar no que deve: zelar pelo imenso património dentro da ZEE e garantir que o pescado é introduzido no mercado em excelentes condições. Este é que é o apoio que as pescas nunca tiveram.
O resto? É só puxar pelos remos, para quem quiser remar, claro.