terça-feira, 6 de março de 2007

Navegar não é preciso.

Se há assunto que os governos gostam pouco de discutir este é um deles, as pescas.

Sobrepõem-se interesses, alguns muito antigos, num sector da economia condenado neste século a mudanças de 360º. Muito se inventou, desde cooperativas e apoios até encontros internacionais mas a coisa nunca deu certa.

Esta questão é política mas não tem cor partidária nem é exclusiva de Cabo Verde.

Os recursos marinhos estão a diminuir. A razão é simples, não se vê nem se sabe a quantidade de vida que realmente existe no oceano. Calcula-se, mas com muito pouco rigor. E, se tiramos sem repor… um dia acaba.

A ideia do bravo pescador chegou ao fim. Como chegou ao fim, há muito tempo a ideia do bravo caçador.

Hoje ninguém no seu juízo caça vacas, porcos, galinhas e tantos outros animais para se alimentar.

Hoje alguém com juízo tem que pensar em reproduzir e criar os peixes. Este é que vai ser o futuro e o sustento das gerações vindouras.

Os responsáveis e entendidos nas pescas fazem do assunto quase um tabu. Em inúmeros encontros, reuniões e discursos sobre pescas passam a lado da solução fundamental: mudar tudo!

Um barco de pesca, ou uma frota de pesca é muito cara e dispendiosa de manter, equipar, renovar e sobretudo pagar.

O que vem à rede é peixe, ou, nem tudo o que vem à rede é peixe e então joga-se fora. Uma atitude ultrapassada e displicente para com a natureza.

Todos os anos morrem pescadores com o pesar de todos mas sem grande indignação geral.

E por aí fora.

Cabo Verde tem mais de 1.000 km lineares de costa. É uma extensão maior do que a costa continental portuguesa, por exemplo. Ao contrário do que cantam alguns poetas, Cabo Verde não é “um torrãozinho perdido na mei di mar”. É um país com alguns recursos importantes e em alguns aspectos privilegiado.

Pescar não é a solução. A solução é investigar, reproduzir espécies adaptáveis ao desenvolvimento em cativeiro, criar peixes, exportar e ocupar um lugar importante no comércio internacional retirando da pobreza centenas de pescadores. Com um forte crescimento, a produção em cativeiro ocupa hoje 10% do consumo mundial de pescado.

Tanta costa, tanto mar! Não acabará de certo a pesca, como não desapareceu a caça. Mas a pesca tal como se faz hoje não tem sentido.