Pobreza Como Desculpa.
Sete desculpas que entraram no ano novo. Sete soluções à espera de vontade política. A pobreza não é um fado.
-Continua a extracção de areia para a construção civil na maior e mais antiga reserva natural de bivalves de Cabo Verde e provavelmente da Macaronésia, Baía de Nª Senhora da Luz. Lamenta-se a pobreza dos seus habitantes e os partidos desdobram-se em visitinhas de solidariedade. O que poderia ser uma exemplar e rentável exploração em aquacultura, com trabalho garantido para muita gente e alguns biólogos, tem os dias contados. É uma questão de tempo. Os governos estão sempre de passagem.
-Multiplicam-se os hotéis, cresce o sector do turismo, mas o sustento da actividade não se desenvolve nem se definem políticas e objectivos. Pensa-se em grande, mas não se pensa distante. O País tem um enorme potencial para a agricultura protegida e até para a floricultura. Que os turistas venham aos magotes e aos pacotes com tudo pago, percebe-se, mas o que não se vai perceber e aceitar é quando começarem a chegar aviões cargueiros carregados de legumes. Nesse negócio todos ganham menos o País.
-Lixeirada por todo o lado. É verdade que já esteve pior. Às vezes parece melhorar mas é como quem diz um dia na cama dois na lama. Aquilo que deveria ser objecto de uma discussão pública sobre as soluções, incluindo a de se transformar o lixo em energia, transformou-se numa espécie de luta de acusações e denúncias de sensação. O lixo necessita de outros procedimentos e outros pensares. Os procedimentos actuais só agravam o problema e os pensares também. Á Câmara Municipal não deve competir a recolha e tratamento do lixo. A Câmara Municipal é para governar a Cidade.
-O sítio do mercado municipal com mais de cem anos transborda cada vez mais de gente e falta de higiene. O Delegado de Saúde ameaçou, no dia a seguir deu-se uma mangueirada e pronto. Soluções? Ninguém toca na coisa, é dali que vêm muitos dos votos decisivos ou fatais. Com as urnas não se brica, agora. Aguardemos pelas mensagens de campanha eleitoral que se aproximam. Será interessante registar os discursos ao vivo ornamentados pelo batuque das fogosas rabidantes.
-Chuva cá tem. Isto é, tem e muita mas não acerta com a cultura de sequeiro. Todos os anos chovem bateladas da abençoada água que lava ruas e ribeiras até ao mar sem que alguém se importe. Alguém com obrigação política de se importar, claro. Os chineses “ofereceram” o Poilão e pronto, pouco serviu de inspiração. Guardar a água da chuva não faz parte da nossa cultura. Cantar a falta dela, sim. É mais fácil.
-Os investigadores um pouco por todo o mundo já são unânimes em considerar esta planta a segunda mais importante para a produção de biocombustível. No Brasil estão a iniciar plantações em larga escala e a sua produção traz benefícios imediatos fixando pessoas nas áreas rurais diminuindo com eficácia a pobreza. Cabo Verde cultivou esta rainha durante mais de cem anos. A Purgueira. Hoje fazem-na esquecida e desprezada, ultrapassada em importância pela lamechice dos “programas de luta contra a pobreza”. O futuro dar-lhe-á razão e importância económica.
1 comentário:
Gostei do blogue. Tem opiniões francas, muita informação e imagens bonitas.
Tem também opinião sobre as coisas terra e a vida das gentes, isto é, sobre política. Não encontrei ainda outro de Cabo Verde assim.
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