sábado, 1 de março de 2008

Novos Escuteiros


Há alguns anos, uma amiga participava num grupo de escuteiros da Praia Maria que promovia entre muitas actividades, acções de sensibilização junto de crianças pobres. Um dia juntaram muitas escovas e pastas de dentes que distribuíram por inúmeras crianças de Achada Mato. Deram conselhos, brincaram, falaram, falaram e sentiram o que sente muitos dos que pensam lutar contra a pobreza: satisfação.
Incrédula e triste, no dia seguinte, a minha amiga viu algumas crianças de Achada Mato a vender escovas e pastas de dentes pela rua.
A um nível de organização mais sofisticado do que um tradicional grupo de escuteiros é o que fazem os novos grupos de escuteiros da cultura: geminações, atelieres, oficinas, festivais, encontros e outros eventos sob o signo do interesse comum e de ajuda desinteressada e solidária. Feitas as contas gastam-se milhões nesses rodopios pela Macaronésia ao sabor de uma classe política que gosta de viver bem mas que se preocupa - também gosta de sublinhar nos discursos - com questões como a pobreza.
Não faltam dádivas desinteressadas que entregues em mão permitem conhecer melhor os costumes gastronómicos e gente simpática: roupinhas e até colchões iguais ao que se fazem em Cabo Verde e tanta coisa, ainda boa, que pouca falta faz aos solidários.
Mas há outras contribuições que não são materiais mas que parecem ajudar muito a festa e o bram-bram: os simpósios sobre turismo, os fóruns de experiência política, judicial, constitucional, administrativa. Eu sei lá, um mundo de interesses comuns e boa vontade. Até mesmo a classe empresarial contribui para o peditório, trocando as suas Câmaras de Indústria e Comércio viagens e palavras de grande interesse comercial, apesar dos transportes dentro da Macaronésia não existirem, porque afinal de contas esta questão não interessa nem serve para nada. Bastam as divertidas feiras anuais de comércio e indústria para troca de bonés e cartões e o balanço é sempre positivo.
Tarda em aparecer um mestre de dança que diga, alto e pára o baile. O que verdadeiramente faz falta é pôr a Macaronésia em rede. Geminar o conhecimento. Geminar universidades e escolas, conectar estudiosos e investigadores, reduzir distâncias e ignorância, produzir, transportar, comprar e vender para com menos folclore oficial e mais prosperidade económica, os mais pobres possam comprar as suas canas de pesca e sustentar-se. Caso contrário a falácia do velho ditado “não lhe dês peixe, ensina-o a pescar” será sempre citado até à náusea pelos modernos escuteiros da cultura. Sem prosperidade económica os pobres vendem a cana, o peixe e o manual de instruções. Com razão.

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