Proximidades

Inventar outras proximidades é como se fosse possível dar um jeito à História e à Cultura, i.e. origens e vivências. O que alicerçou as nossas culturas foi o isolamento, um isolamento de séculos. Muito do nosso imaginário de certo tem algumas origens comuns. Mas foi o isolamento que moldou esse imaginário e que o transportou para a alma dos povos.
Falar de interesses comuns, claro que os há e muitos, mas enquanto uma vaca açoriana receber mais em subsídios do que o rendimento médio de um cabo-verdiano, não estou a ver grande comunhão de interesses comerciais. Quem diz vacas diz qualquer outro produto ou serviço produzido nos Açores. Podem abrir as linhas de crédito que quiserem para os empresários açorianos virem investir. O problema maior é que depois não existem subsídios (a tal teta proteccionista que não existe
Parcerias, parcerias mesmo só estou a ver uma de enorme utilidade para ambos os povos: o conhecimento. A Universidade como hub na concretização do muito que se pode fazer em muitos sectores. Por exemplo, não vejo interesse nenhum em virem frotas de pesca delapidar as águas cabo-verdianas, mas já vejo a maior utilidade e interesse comum fazer uma parceria com futuro: partilhar o conhecimento sobre o mar. Cabo Verde tem águas excelentes e estáveis em temperatura e agitação, os Açores conhecem muito na investigação e biologia marinha. O futuro não será certamente a caça/recolecção, o futuro das pescas será seguramente a aquacultura. Esta seria uma parceria séria e de ouro para os dois arquipélagos com peso mundial nas próximas décadas.
O mais certo é que para o ano ou nos seguintes haja nova digressão de delegações empresariais – para cá e para lá – e muito escutismo cultural, as mesas das delegações lautas de sabores e francas gargalhadas e os discursos inflamados e fraternos, mas por certo os nossos arquipélagos continuarão pobres, como sempre foram, apenas porque teimamos em deixar no cais de partida uma preciosa ferramenta para o bem-estar dos povos: o conhecimento científico.

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