terça-feira, 3 de junho de 2008

Tratar Das Pessoas.

Sem rabidantes a Praia perderia parte da sua alma. Perderia ímpeto económico, cor, vida e algum do seu sentido. Seria outra cidade, naturalmente com outra vida. Há milhares de cidades que não têm rabidantes. Mas esta tem. Não é necessário bajular o facto com estátuas do tipo troglodita homem de pedra nem fazer kultura do tema. As rabidantes inventaram-se a si próprias porque têm de viver e fazem-se necessárias. Está tudo dito.
O que nunca aconteceu foi uma eficiente regulação que vá de encontro aos seus interesses e aos interesses da cidade. O douto discurso de algumas pessoas bem de vida, vê no comércio informal um mal e não uma mais valia, o que é desde logo um erro. Não há muitas nem poucas rabidantes, apenas as que o mercado suporta, apenas a quantidade que permite o dinheiro que circula a cada dia.
Entre não ganhar nada e catar um tostãozinho mais vale a pena arriscar. Está bem visto. Não havendo indústria, agricultura e serviços que absorvam tanta gente (nova e feminina) sem qualificação mesmo que precariamente, o melhor mesmo é rabidar a vida, um dia de cada vez, sem que nada disso seja combinado ou planeado com o Estado. É a ordem natural das coisas pela sobrevivência. É a criatividade a sobrepor-se à revolta e à pobreza.
Promover as rabidantes ou persegui-las não tem pilhéria. O que não é um erro é impor algumas condições no sentido de as proteger e de proteger a saúde pública e a cidade.
É imperativo que se proíba a venda de carne exposta pelas ruas, seja peixe, vaca ou cabra. Mas não vejo mal nenhum que peixeiras vendam pelas portas “peixe de cabeça” e cavala esviscerados e sem guelras, coberto com gelo. Como é imperativo que se reconstrua o mercado municipal no Plateau com um segundo piso em anel e que os espaços para venda de peixe e carne “tripliquem” de tamanho e sofram transformações radicais.
É imperativo que se desocupem os passeios. Mas é imperativo que em alguns sítios considerados estratégicos pelas rabidantes se retire um metro e meio ao estacionamento dos carros, que não dão dinheiro a ganhar a ninguém, se coloque uma protecção em aço inox ao longo da rua para que as rabidantes possam vender livremente os seus produtos em segurança e sem ocupar os passeios.
Não deve ser permitida a venda de água ao copo, mas a Câmara deve colocar postos de venda de água fresca em muitas esquinas com copos descartáveis de papel reciclado e concessionar o negócio a quem o faz de momento com um garrafão na mão e um único copo.
Não se deve proibir a venda de sopa em alguns locais na rua, o “café” de centenas de pessoas que só têm uma cinquentinha para comer, mas deve-se exigir que a mesma esteja sobre um fogareiro com brasas para permanecer a uma temperatura superior aos 60ºC e os pratos e colheres não devem ser reutilizados mas sim financiados da mesma forma como são as seringas descartáveis. É mais barato do que tratar hepatites, tuberculose e um sem número de infecções.

Enfim, tanta coisa pode mudar para melhor sem perseguições cretinas, com autoridade mas com diálogo, educação e trato democrático. Sobretudo imaginação.


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