Atrás Dos Tempos.

Fosse como fosse, esperava-o uma arena para todas as lides e Manuel Martins era o único diestro naqueles festivais.
Em noites de Verão, as estolas vinham abaixo. Muito reluzentes nos seus vestidos de tafetá debruados a rendas de seda e algumas lantejoulas, as senhoras da cidade refastelavam-se nas cadeiras de vimes, como digníssimos espaldares de formas suaves, que contornavam as mesinhas brancas e circulares de ferro, Enfarpelados à época, os respectivos consortes ocupavam também os seus postos, ainda que nem sempre ligassem ao protocolo. O Páteo da Alfândega era o salão nobre de Angra.
Muito brilhantes nas quedas besuntadas com Brilhantina Africana (à venda na Drogaria Carneiro), pares mais desenvoltos perpetuavam a tradição das banquetas quase sempre escurecidas por lâmpadas que não se acendiam e a miudagem enxotada desses sítios de peregrinação, dividia-se entre o jogo da cabra-cega e a miraculosa arte de apanhar baratas e enjaulá-las em caixas de sapatos para criança.
Manuel Martins andava num pé só. Do Café Atlântico para a esplanada fervilhavam os cafezinhos, os conhaques em cálices do tamanho de um dedal eram aviados em número às vezes considerado assustador e a S. Jorge branca e preta, entalada em barras de gelo, nem sempre chegava a arrefecer. Era a altura de dar a bomba no fogão Primus, pisar com uma garrafa um punhado de sal e polvilhar os pires de batatas fritas muito quentinhas e muito encharcadas em gordura – a novidade aburguesada e marcante de um Páteo que acabou por transformar-se numa alfândega por despachar."

Sem comentários:
Enviar um comentário