sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Salvar Vidas.

Por mero acaso encontrei no pátio de um serviço público uma poça com pouca água onde se agitavam aflitos estes girinos. Em redor muitas outras poças secas continham milhares de girinos mortos e ressequidos. Recolhi os que pude e muitos outros tiveram a morte como destino. Os ovos enterrados desde o ano passado eclodiram com as chuvas, mas as hipóteses de sobrevivência são quase nulas e daqui por muito poucos anos extinguir-se-ão desta área. O asfalto e a construção estão a ocupar rapidamente o lugar onde durante séculos viveram. Lembro-me do coaxar das rãs pelas noites quentes por esta altura em toda a zona da Fazenda no ano de 1990, isto é, ontem. A Praia cresceu contra tudo e contra todos: árvores, coqueiros, lençóis freáticos, rãs, aves e pessoas. Ninguém se importou ou sequer este foi alguma vez assunto de prosa ou púlpito para deputado da Nação. Que importância pode ter um charco com rãs comparado com uma torre de betão armado ou um asfalto? Nenhuma. E por não ter qualquer importância se destruirá toda a bela zona do Taiti, se destruiu a Praia Negra, se conspurca as ribeiras, se abatem árvores por toda a cidade, se despeja betão em terrenos agrícolas, se é tomado pelo pobre delírio de pensar que somos donos dos recursos naturais e das outras criaturas a quem achamos uma inútil piada.
Por este andar a nossa vez também chegará. Isolados de tudo quanto foram as nossas oportunidades de sobrevivência e bem-estar. A sorte destes girinos não dependeu da sua opção, mas a nossa sorte sempre esteve apenas nas nossas mãos. Talvez um dia a inteligência oriente o nosso destino e possamos de novo ouvir o coaxar das rãs numa noite estrelada. Entretanto estas vão morar na barragem do Poilão.

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