quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Remar É Preciso.

Tempos houve em que o peixe tinha preço garantido e era pago mesmo antes de ser capturado. Bons tempos esses que não voltam mais. Tudo era simples, grande e eficaz, nem era preciso fazer muitas contas e as poucas que se faziam batiam sempre certinho.
Depois o mundo mudou não deixando nada garantido, os barcos entretanto apodreceram, as estruturas caíram aos bocados, cada um salvou o que pôde. Mas duas coisas houve que não mudaram: a nostalgia desses tempos e o apego do Estado pelo que ainda resta dessa época que o transforma um pouco em bombeiro das crises dessa agonia que de vez em quando vem à tona.
Na altura ninguém tinha dúvidas, de resto era uma coisa que ficava feio para quem mandava. Hoje não é tanto assim, mas não deixa de ser interessante observar que pouca coisa mudou.
Agora há eleições e por isso os governos mudam e os poderes alternam-se, mas no essencial a concepção para o sector das pescas não mudou, a ideia de que o Estado deve ser o “pai-de-todos” e o “mata-piolhos”.
Sempre que há uma mudança de governo anunciam-se “novas” medidas para o sector. Mais apoios, mais encontros, mais dinheiro disponível, mais de tudo. Numa dessas alternâncias o governo até “decretou” a proliferação de cooperativas de pescadores para que pudessem existir proprietários para os muito barcos mandados construir com dinheiro vindo de todos os lados. Foi mais um momento de prosperidade para intermediários, funcionários ditos técnicos, pescadores, peixeiras e até imprensa. Mas não passou mesmo de um momento, tudo acabou tão depressa como foi pensado.
Uma longa lista de “medidas” tomadas poderiam servir de exemplo e outra extensa lista de “medidinhas” contemplando generosas ofertas de linhas e anzóis fizeram do sector das pescas uma espécie de biblot do Estado. Parece haver perguntas proibidas que não se fazem porque muitas outras também nunca se fizeram, como por exemplo, para que serve o INDP? Ou, para que servem as muitas estruturas de pesca doadas pelas cooperações, e que nunca chegaram a funcionar para os fins que deviam?
Esta dormência faz com que o sector esteja sempre à espera que surjam novas e mágicas medidas. Até os deputados no Parlamento falam em tom altivo e o dedo em riste parecendo guardar segredos e medidas que só serão revelados na volta do próximo governo. Há dias uma associação de armadores “queria respostas do governo” sobre respostas que eles próprios não dão. Histórias que nunca mais acabam. Outro exemplo, umas beneméritas cooperações de mãos dadas com o governo ofereceram há meses dois botes “fibrados” de boas dimensões a duas comunidades piscatórias, nenhum deles pescou ainda um carapau, um está fundeado e mete água porque a fibra de vidro não chegou para tudo e o outro está em terra e ninguém o quer montar porque, dizem, tem “mau-olhado”. Mas foram momentos de glória com a entrega, o baptismo e os discursos.
Está na hora do Estado deixar-se de nostalgias, folclore e intervenções inúteis e pensar no que deve: zelar pelo imenso património dentro da ZEE e garantir que o pescado é introduzido no mercado em excelentes condições. Este é que é o apoio que as pescas nunca tiveram.
O resto? É só puxar pelos remos, para quem quiser remar, claro.

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