domingo, 25 de fevereiro de 2007



Se eu tivesse necessidade de ti, ilha, chamar-te-ia Terceira
Pico ou Corvo. A diferença abissal dos nomes corresponde
à diferença do fundo e da superfície. Poderia porventura
comer laranjas sentado num dorso de baleia? Reduzi
a imaginação aos contornos exactos da ilha vista de longe.
Aqui pus-me a pensar na insinceridade que é
falar das coisas que pertencem à profundidade do oceano.
Porque,
haverá alguma razão na coabitação dos corvos e gaivotas,
Mesmo provisória?
Não, digo. Os elementos estão segregados do seu campo; “ilha”
Funciona como imagem irredutível. Eis porque me abandonei
ao naufrágio. Eis porque os nomes não constituem tábuas
de salvação.
E finalmente eis o que de útil tem o poema.

(j. h. santos barros)

s.mateus outros lugares e nomes - 1980
poesia açoriana