sábado, 7 de abril de 2007

Há Sempre Alguém...

Esta referência de Marilene Pereira sobre o excelente trabalho do historiador António Correia e Silva dá que pensar.

Ainda hoje há ilustres, digníssimas e mui cultas pessoas que pensam que os humanos se dividem e subdividem em raças. Outras ainda não aceitam que este nosso único filo, o Homo sapiens sapiens começou a sua viagem pelo sistema solar em África por mero acaso, remota e improvável coincidência.

Foi uma surpreendente e maravilhosa sorte, a nossa.

Centenas de milhar de anos nos separam do início dessa viagem com conquistas e tragédias que, por inúmeras vezes, quase nos extinguíam para sempre.

Da maior parte desse tempo não temos memória, nem vestígios. Apenas indícios que a ciência caprichosamente cola em frágeis puzzles sempre incompletos e discutíveis. O mesmo não se pode dizer do tempo recente em que a memória está mais viva por se encontrarem documentos, objectos e histórias contadas.

Estes homens e mulheres, Julangue, ultrajados por um sistema económico e político, que parecia perfeito na época e uma condição social forçada do interior do continente, disseram NÃO.

Estes são uma boa parte dos antepassados directos da maioria das pessoas que passeiam pelos corredores dos ministérios do poder de hoje. Das que povoam ruas, praças e restaurantes das nossas cidades. De Meritíssimos Juízes, competentes técnicos, convencidos artistas, badios e sampajudos. De mulatas e negras rabidantes. De pessoas que emigram para os cinco continentes do planeta. Das que não aceitam outra ascendência que não seja a de pele branca, com um orgulho que por vezes roça o bacoco e o ridículo.

Enfim, estes Julangue são na verdade, e em grande parte, os avós deste povo. Os seus genes proliferaram por estas ilhas, são inconfundíveis, estão presentes e gravados para sempre nesta nossa viagem colectiva. Genes que vêm de outros tempos e lugares ainda mais longínquos e admiráveis.

Apetece pôr mão na Antropologia, na Arqueologia, na História e noutras ciências e viajar até esse passado recente para dignificar e tocar nessas pessoas que disseram NÃO.

Porque

Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não.