quarta-feira, 13 de junho de 2007

Com segredos e silêncios

Fecho os olhos para sonhar cidades distantes,
paisagens de luz com um destino estranho

É um filme de silêncio. Piscam as luzes,
mexem as bocas. Pisam marcas dos antecessores.
Amam, gritam, sufocam.
Eu estou surdo. Surdo e mudo.

Estou do outro lado dos continentes.
Vivo na luz marítima

Chego-me a ti em sonhos
como um velho cargueiro, oscilando e rangendo
sem destino no meio do nevoeiro

Sonho que faço a ponte. Atravesso o oceano
com segredos e silêncios depositados pelos anos
no fundo dos porões

Trago olhos de faroleiro turvos das tempestades
alma de pescador temente do desastre
e um coração astronauta ciente de que a terra é pouca
e finita


Rui Duarte Rodrigues
(Com segredos e silêncios - 1994)