Com segredos e silêncios
Fecho os olhos para sonhar cidades distantes,
paisagens de luz com um destino estranho
mexem as bocas. Pisam marcas dos antecessores.
Amam, gritam, sufocam.
Eu estou surdo. Surdo e mudo.
Vivo na luz marítima
como um velho cargueiro, oscilando e rangendo
sem destino no meio do nevoeiro
com segredos e silêncios depositados pelos anos
no fundo dos porões
alma de pescador temente do desastre
e um coração astronauta ciente de que a terra é pouca
e finita
Rui Duarte Rodrigues
(Com segredos e silêncios - 1994)