quinta-feira, 5 de julho de 2007

O Dia da Nação

Quando o PAIGC fez a declaração unilateral de independência eu tinha 18 anos e já andava há 3 nas lides das juventudes católicas onde circulavam com frequência panfletos com os “pensamentos” de Amílcar Cabral e de tantos outros heróis numa imensa Internacional que almejava mais do que a independência dos povos um modelo de sociedade, um homem novo e uma forma de poder iluminado.
Foram tempos de certezas absolutas, de convicções, de lutas sem tréguas, de poucas ideias inovadoras mas muitas acções sem discussão. A vida cabia nas poucas linhas de um manifesto, numa folha A4, numa causa pelo Povo.
Por mor dum regime, também ele feito de cultos, a independência dos povos das colónias portuguesas ceifou a vida a dezenas de milhar de seres humanos antes, durante e depois das independências. Salvo raríssimas excepções, os seus nomes não estão escritos nem lembrados em qualquer lápide, é como se nunca tivessem tido vida.
O homem novo não apareceu, por não se conseguir apagar os registos genéticos que contêm dezenas de milhões de anos de evolução. A intolerância gerou ofensa e humilhação e a fé de que num mundo novo, como de um qualquer imaginário religioso se tratasse, nem todos teriam lugar, o que levou milhares de pessoas a abandonarem o berço dos seus antepassados. Foi dolorosa a Independência. O tempo não apaga a memória mas faz mudar os homens e mulheres e traz outros bem diferentes num maravilhoso ciclo de renovação da própria História. Por isso, a Independência também transportou consigo muitos homens e mulheres diferentes na maneira de pensar e agir, obstinados pela tolerância, pelo diálogo, por valores bem antigos como a liberdade de falar, ouvir e pensar e pela construção de um País voltado para o mundo. Estas pessoas acabaram por influenciar decisões e sobretudo fazer com que outras pessoas com poder nas decisões tivessem dúvidas. Uns e outros construíram o Cabo Verde moderno que é hoje. O nosso desejo e necessidade de referências faz-nos alimentar o culto por aqueles que consideramos os nossos heróis, talvez não haja outra forma de nos lembrarmos dos acontecimentos ou de decorarmos as nossas praças.
Mas há uma heroína da Independência muito mais antiga que o País, a Nação Cabo-verdiana.