quinta-feira, 26 de julho de 2007

O Ouro Verde

Quase todos os dias vou a uma bomba de combustível meter gasóleo no carro, dá-me mais jeito que seja pouco de cada vez. Nunca encontro mais do que um ou dois carros na bicha, nem alguma vez encontrei a bomba encerrada ou sequer em regime de racionamento. Por enquanto tem sido assim mas não é certo que assim seja nos próximos anos. Os mercados internacionais ditam o preço do petróleo cada vez mais alto, há muito que já se concluiu que esta energia causa graves danos ambientais e que um dia deixará de ser suficiente para as nossas necessidades.

Confesso que não estou em pânico e até penso que não há razões para discursos catastróficos a menos que isso seja um fabuloso negócio como o Live Earth e uma certa ecologia caviar bem na moda.

Estamos de acordo que é preciso poluir menos e para isso é necessário que se encontrem alternativas e sobretudo que se as ponham em prática, que se usem essas alternativas já, sem ser necessário actuar quando estivermos, por qualquer motivo, em ruptura energética ou envoltos num ambiente irrespirável. Cabo Verde dispõe de vento, sol, geotermia, mar e terra. Não tem petróleo no quintal mas dispõe de um leque invejável de condições para reduzir a factura de importação de combustíveis fósseis, contribuir para a redução de emissões de CO2, melhorar a sua economia e ficar menos pobre.

Todas as alternativas são boas (incluindo a nuclear, mas neste caso o País não tem capacidade económica, nem pessoas em número suficiente, nem necessidade para tamanho investimento). Todas as formas de energia devem ser equacionadas e integradas segundo a importância e os objectivos a que se destinam. Estou certo que deve haver Plano Nacional de Energia e um plano que equacione ao mesmo tempo os investimentos e as vantagens para o País. Todos os equipamentos para produção de energias alternativas necessitam de avultados investimentos iniciais e como não podia deixar de ser todos os construtores acotovelam-se para os vender realçando as nobres qualidades de todos eles, e em boa verdade todos têm grandes aplicações.

No entanto há uma energia alternativa que não necessita de intervenção externa, nem fica dependente de qualquer assistência mas provoca um enorme e positivo impacto social, impacto maior do que qualquer outra. É, nas palavras do Eng. Químico Expedito Parente, acima de tudo um remédio social. Essa energia chama-se biodiesel.

Cabo Verde tem as melhores condições para a produção dessa energia que se extrai do óleo de Purgueira Jatropha curcas, além de inúmeros derivados para outras indústrias. A opção por esta energia pode mudar a vida de muitos milhares de proprietários por todo o País, pode fixar pessoas no campo, pode reduzir o desemprego e a pobreza, pode colocar Cabo Verde no pelotão dos países que realmente estão a contribuir para a redução das emissões de CO2.

Cabo Verde já foi um dos maiores produtores mundiais de sementes de Jatropha curcas (mais de 4.000 t/ano em média desde o séc. XIX até aos anos sessenta), por isso não é uma planta estranha ao País e o mundo rural conhece-a bem. Hoje o País dispõe de óptimos técnicos em todas as áreas que esta indústria necessita, as técnicas de selecção artificial e outras são hoje uma ferramenta preciosa no aumento da produtividade e a total estabilidade política pode tornar esta opção um desígnio nacional, relançar um novo ciclo económico com todos os cabo-verdianos que vivem do campo ou a ele estão ligados, até os emigrantes mesmo ausentes podem rentabilizar as suas propriedades. A opção pelo biodiesel a partir do cultivo da Purgueira é uma opção inteligente, valoriza as capacidades do País e semeia confiança no futuro.

A Purgueira, na minha opinião, é o ouro verde que pode fazer de Cabo Verde um País mais desenvolvido e moderno.

Sérgio Alves
(Expresso das Ilhas - 25/07/07)