quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Feudo

Sob a capa de ancestrais “especificidades”, pertinente pobreza à mistura com muita miséria cultural a que chamam “maneira muito própria de pensar” justificada com a insularidade como desculpa, tornam o Porto de Pesca da Praia um feudo. Um feudo de interesses rentáveis que utiliza a pobreza para impressionar os incautos e neste caso os incautos inclui o Estado que faz de conta não entender da matéria.
Bem vistas as coisas o Porto de Pesca da Praia foi ampliado para servir melhor a pobreza e a miséria. Mais uma doação que como muitos outros negócios só prejudica Cabo Verde. Basta olhar de longe porque de muito perto não é bom para os mais sensíveis do estômago.
Começa logo pelo tremendo equívoco de que o peixe capturado é dos pescadores e das suas companheiras rabidantes, quando em boa verdade o peixe capturado é pretensa de todos os cabo-verdianos até ser leiloado pelo Estado com base no preço que o pescador entender que deve corresponder ao seu trabalho. Só depois é que o peixe é do pescador ou de qualquer outra pessoa que o licite, e pague os devidos impostos.
No Porto de Pesca da Praia ninguém paga nada, ninguém regista nada, ninguém sabe de nada, ninguém pesa nada, os pescadores vendem quando muito bem entendem e a quem muito bem querem para já não falar no enorme lamaçal de vísceras e sangue que produzem todos os dias. No Porto de Pesca da Praia não há rei nem roque. Mas há quem, no próprio governo, ache piada e lá vai de vez em quando de saquinho plástico na mão comprar “directamente ao pescador”. Ilegalidade só haveria se alguém encontrasse no mar um pote com moedas de ouro e pensasse que era seu. Nessa situação o Estado corria atrás da legalidade que nem lebre. Há coisas que não mudam para melhor porque não se quer, não fosse a pobreza e a miséria um “bom” negócio para muitos.

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