sábado, 15 de março de 2008

Peço Desculpa.




A festa não foi de arromba mas quase. Muitos “populares”, como sempre os mesmos para os comícios, inaugurações, cerimónias religiosas e até eleições. Este tipo de liberdade proclamada, deslumbra e mobiliza em todas as épocas e circunstâncias e ainda nos mobilizará por muito tempo. Ainda bem que assim é enquanto sobrepor a humanidade à barbárie. Mas neste caso, na história do Amistad o deslumbre favoreceu e favorece o poder dos “interesses culturais” e da propaganda política.
A história do Amistad é simples e contemporânea. É uma história do tempo presente. História do exacto momento em que eu estou a escrever este post.
Foram e são dezenas as revoltas de todos os tipos de escravatura geminadas bem no interior do continente africano, o Grande Berço, com as naturais atrocidades que as provocaram e outras tantas que as vingaram. Mas esta, a do Amistad teve a sorte de encalhar num porto contra-a-maré da época e de hoje: o Estado de Direito. O poder independente da Justiça. A Lei do escrutínio e representação democrática.
Infelizmente não é isto que serve de símbolo. O símbolo apregoado é vago e atreito a mil interpretações: A liberdade!
O poder político (o nosso e tantos outros) navega muito bem nestas cálidas águas. São calmas, praticamente sem ventos. Sinais dos tempos cada vez mais contados.
As revoltas sem porto de abrigo e sem apoteóticas festas continuarão. Muitos de nós também, convictos, continuaremos a navegar sobretudo na defesa do Estado de Direito, da Justiça e contra o tráfico de pessoas e os escravos de sempre.
O Amistad não é uma réplica nem um símbolo. Estes ainda são os ventos antigos que nos sopram e magoam.
Eu não gosto destas festas nem destes símbolos da Liberdade onde o ideal dá lugar ao negócio. Peço desculpa.

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