sexta-feira, 7 de março de 2008

Poema Dos Náufragos Tranquilos

Somos herdeiros dos quatro ventos
Sem uma vela para lhes dar
Temos amarras e temos lenços
Num cais de pedra para acenar

Somos herdeiros da maresia
Que salga os olhos de olhar o mar
E temos rios de lava fria
Que se recusam a desaguar

Somos herdeiros de uma lembrança
De tesouros afundados
E arpoamos a esperança
Na nossa morte reclinados

Somos herdeiros de um rombo aberto
No nevoeiro secular
Tranquilos náufragos do incerto
Vamos morrer no mar


Emanuel Félix

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