quinta-feira, 27 de maio de 2010

A Primeira Venda (II)



(In Africa - Infomarket.org - Julho 2005)
"casa arrombada trancas à porta" - por sinal uma frágil tranca sem orientação.

Se, como escrevi no post anterior, é muito difícil ultrapassar a primeira fase da Primeira Venda, mesmo que em alguns casos fosse possível o acompanhamento de perto e o incentivo com a oferta de melhores preços pelo pescado a alguns mestres pescadores, a fase seguinte é, de momento, impossível de ultrapassar. O País não dispõe de estruturas adequadas, nem regulamentação, para a Primeira Venda. Sempre se falou da “aposta no sector das pescas” com vista à exportação e consequentemente o aumento do seu peso no PIB, mas as intervenções nunca foram na direcção certa. Muitos estudos, muitas sensibilizações, workshops, ateliês, visitas, viagens, subsídios, apoios e discursos. Mas no crucial não se tocou: a Primeira Venda.
Não é necessário que se pense em Lotas, não fazem falta e só complicam. No entanto é imprescindível dotar o País de estruturas simples mas funcionais onde se façam as descargas e o controlo sanitário do pescado em todos os portos possíveis. Casas do Peixe onde se efectua a Primeira Venda que significa pesar, verificar, monitorizar, certificar e cobrar uma taxa pela venda e pela compra para que o Estado possa financiar a manutenção dessas estruturas e o seu bom funcionamento e onde os pescadores, por exemplo, possam ver amortizados os seus empréstimos à banca ou outras estruturas de crédito, em função das capturas, pois como é sobejamente sabido ninguém vai pagar atempadamente o que deve e foi por isso que ficaram dezenas de embarcações por pagar, falidas e destruídas no passado recente.
As Casas do Peixe não servem para amanhar peixe como acontece na imundice chamada Cais de Pesca da Praia, servem para introduzir no mercado o peixe em boas condições de higiene e qualidade. Não servem de ancoradouro mas apenas para a obrigatória descarga do pescado e operações seguintes. Servem para garantir valor ao consumo e à exportação de peixe.
Enquanto não houver uma política de pescas que dê a maior das prioridades à regulamentação e implementação da Primeira Venda será impossível tirar partido deste sector crucial para as exportações em Cabo Verde. O perigo de um novo embargo é maior do que um bote à deriva, salvo seja.

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