sábado, 14 de abril de 2007

A Outra Luta

De repente toda a gente se apercebeu que Cabo Verde é um importante e natural entreposto no comércio internacional do ouro branco. Até a comunidade internacional acordou de um longo sono e eis que rodopiam com promessas e concretização de apoio ao combate a que chamam de global só porque a coisa dói nas economias dos países desenvolvidos.

Há muitos anos que oiço abnegados polícias em declarações públicas pregarem no deserto sobre esta matéria. Pessoas que sempre disseram o que hoje se diz duma forma que parece uma descoberta de iluminados.

Ainda não ouvi alguém equacionar uma das razões por que Cabo Verde tem servido há longos anos de entreposto para esse negócio de morte e sofrimento: a condescendência moral da sociedade.

De certa forma há muito que a sociedade caboverdiana não se importa que o negócio se faça, lamentando apenas a má sorte dos criminosos. Daí que as polícias não têm sido levadas a sério e têm trabalhado na maior parte das vezes em péssimas condições profissionais.

Por via da pobreza a todos os níveis uma boa parte da sociedade representando todas as classes sociais acha que esse negócio é uma questão de sorte e não se coíbem nem se envergonham de ostentar os sinais exteriores de riqueza. O facto desse negócio matar e fazer sofrer milhões de pessoas não lhes toca, simplesmente porque a própria sociedade é moralmente condescendente com esta atitude.

É preciso acompanhar o inegável desenvolvimento actual do país com a cultura de certos princípios. As polícias, a comunicação social, os professores, os encarregados de educação, enfim todos nós temos que incluir esta matéria na educação das crianças: há coisas que não devemos fazer só porque é ilegal mas porque mata e faz sofrer outras pessoas. O combate também é pela dignidade e moral colectivas, pelo respeito que os outros merecem.