terça-feira, 30 de junho de 2009

Leituras

A sociedade que se convencer estar segura e livre de entrar num processo de autodestruição até à extinção engana-se, mesmo usufruindo de tecnologia, mesmo tendo do seu lado apenas amigos e nenhum inimigo, mesmo que aparentemente não dependa de ninguém e viva em absoluto isolamento está em perigo permanente se não conhecer e gerir muito bem os seus recursos naturais por pouco que os tenha.
Como explica o cientista, a pessoa que cortou a ultima palmeira na Ilha da Páscoa não tinha memória de como era a ilha antes de ter nascido, nem os Vikings que se instalaram no lugar a que chamaram “terra verde” Gronelândia poderiam saber que a terra que viam era apenas parecida com aquela que tinham deixado na Europa de então e por isso não suportaria o mesmo modo de vida e costumes, nem os Anasazi puderam desconfiar que uma das cíclicas alterações climáticas que não sabiam existir os ajudaria a uma trágica extinção.
São tantos os exemplos que, com inteligência e autoridade científica, Jared Diamond descreve demonstrando-nos sempre que ao longo da história humana os colapsos de sociedades e civilizações tiveram origem na associação de muitos factores e fenómenos, mas em todas as tragédias esteve sempre presente uma má utilização ou a sobre exploração dos recursos naturais disponíveis.
Hoje parece que nada nos relaciona com os Maias, os Vikings ou os habitantes da Ilha da Páscoa, mas não é verdade. Olhamos um pouco confusos para o Haiti ou para o Ruanda cuja justificação para o genocídio de mais de um milhão de pessoas em poucos dias dizem ter sido de origem étnica. Na verdade as diferenças étnicas foram parte do problema mas a parte menos importante, muito menos importante do que problemas ecológicos, ambientais e a sobre exploração da terra.
Continuamos hoje a sobre explorar globalmente recursos e a cometer muitos dos mesmos erros que os habitantes da Ilha da Páscoa cometeram. Duvido que não tenhamos que arcar com graves responsabilidades e problemas num futuro próximo, mas tenho também a certeza que o movimento para que se mude muita da nossa atitude para com o planeta e a nossa sobrevivência futura é crescente e colossal nos últimos 50 anos como nunca o foi nos séculos que antecederam a nossa existência.
Não é preciso que, por exemplo, aqui em Cabo Verde gritemos pela Amazónia ou a desflorestação no Haiti. Basta que olhemos para os nossos recursos marinhos como coisa valiosa para a sobrevivência dos cabo-verdianos e não deixar que os governos negoceiem esse bem precioso com potências predadoras como a China a troco de umas obras públicas. Basta que olhemos a agricultura e a silvicultura com tanto empenho e importância como se olha para as novas tecnologias ou para o atabalhoado turismo. Basta que guardemos ciosamente a chuva que cai do céu todos os anos e que pensemos no futuro.
Neste livro, Jared Diamonde conta-nos histórias e dá-nos pistas para que possamos reflectir e evitar erros que nos podem tornar, de repente, mais pobres e vulneráveis. Ainda é possível legar às gerações vindouras um mundo melhor e mais seguro. Cabo Verde não se pode distrair ou descartar responsabilidades com a velha morna “nus é piquinote, nus é coitado”.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Mensagem

(A primeira igreja da cristandade a sul do Saara)

Fizeram bem os Presidentes José Veiga e Manuel de Pina, o primeiro da Comissão Instaladora e o segundo eleito pela Câmara da Ribeira Grande de Santiago da Cidade Velha empenharem-se para juntar à longa lista da UNESCO a classificação da localidade a Património Histórico da Humanidade. Fez bem a UNESCO aprovar tal classificação não por mérito, como se tem escrito, mas por imposição histórica. Mais tarde ou mais cedo não haveria volta a dar a um dos grandes berços da globalização humana.
À parte a algazarra festiva do povo e alguns “culturais” que não sabem o que significa a palavra património, fez-se a festa que mereceu o divertimento e pouco mais.
Toda a gente acorreu ao arraial incluindo muitos escuteiros da cultura e muitos entendidos em negócios de cultura.
Todos esses escuteiros de ocasião escrevem pomposamente que a Cidade Velha não é património da Humanidade agora, sempre foi. Como se todos os lugares reconhecidos e por reconhecer não o são ou tivessem sido sempre e sem perceberem por isso o que significa a decisão da UNESCO. Com razão enchem o discurso de “o berço da caboverdianidade”, mas desde sempre abandonaram a Cidade Velha à sua sorte e ao absoluto desprezo. Muitos intelectuais e políticos laicos, e a Igreja Católica (Diocese) que agora se põe em bicos de pés pouco, mas muito pouco, fizeram pelo “berço da caboverdianidade” em tudo até na vertente material. Quase tudo é escombros e maus-tratos. E isto também é cultura.
Não é preciso ir muito longe, basta visitar a primeira Igreja Cristã a Sul do Saara, Nª Senhora da Luz nesta Ilha de Santiago, construída muito antes da alternativa Cidade Velha, para nos indignarmos com o desleixo e atentado à nossa memória colectiva, sempre e apenas por desprezo e pobre cultura que a Diocese e os vendedores da cabovernidade de ocasião fazem ao nosso património colectivo.
A Cidade Velha é apenas um dos patrimónios cabo-verdianos, neste caso um património da história de muitas e diferentes culturas e vivências humanas. Mas Cabo Verde, ele próprio, tem que mudar de atitude e resguardar, estimar e proteger muitos outros patrimónios: os seus recursos naturais marinhos e agrícolas, ou seja, os seus recursos renováveis e, acima de tudo o maior de todos os seus recursos, as pessoas.
A inscrição da Cidade Velha no rol de património histórico da Humanidade vai ajudar a mudar a imagem que os cabo-verdianos têm de si próprios. Também por isso a decisão da UNESCO foi importante.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

São João Baptista.


terça-feira, 23 de junho de 2009

Percebe-se?

Por cá nem deu tempo para haver "casos supeitos" foram logo três duma vez confirmadíssimos na Assomada. Uma das crianças foge do hospital com a mãe e embarca para a Ilha Brava e o Ministro da saúde vem dizer-nos que não há motivo para alarme, que está tudo sob controle, que o ministério continua atento, que "estamos preparados" e que o H1N1 não mete medo a Cabo Verde. Conclusão, lá terá que vir mais uns dinheiros da comunidade internacional para minimizar os efeitos da desgraça que se aproxima.
"...e no que concerne à terra, fazer com que as famílias têm acesso a ela, porque a maioria parte das terras em Cabo Verde pertencem ao privado e muitas famílias precisam de terra para cultivo, particularmente as mono parentais», advertiu."
Depois de não se perceber para que serviu mais este "atelier", não se percebe se a ideia é propor uma reforma agrária do tipo a "terra a quem a trabalha".

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Só Para Lembrar.

(Jornal A Semana)

Se o regresso da rainha cabo-verdiana não significar mobilização nacional para a recuperação de solos abandonados, interdição da exportação de sementes, produção de biodiesel e liberalização do seu consumo, maior rendimento para a economia familiar rural e aproveitar esse grande recurso para programas de saúde e educação, pois é melhor ficar tudo como está.
Produzir e exportar sementes de Purgueira e depois continuar a importar todo o combustível para produzir energia deixando que a mais valia saia pelos nossos portos só mesmo uma política económica e ambiental desastrosas poderia permitir tamanho erro apoiada por interesses pouco escrupulosos.
A Purgueira é a grande oportunidade de Cabo Verde melhorar, viabilizar e aumentar a sua produção agrícola em todas as áreas até na fertilização natural dos terrenos e expansão de uma agricultura biológica para exportação.
Basta os governantes e deputados quererem um País melhor e mais verde.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O Rei Vai Nu.

Não sei se o monarca Marroquino fez de propósito, mas o que sei é que ele sabia, e sabe muito bem, as condições que Cabo Verde tem para o receber. Não é preciso qualquer aparato, basta mandar um qualquer súbdito qualificado e em 48 horas tem um relatório ao pormenor sobre o que possa implicar a sua deslocação. Em Cabo Verde não há confusões políticas nem religiosas e nem quaisquer confusões que impeçam qualquer sua Majestade de pernoitar.
A agenda era, e continua a ser, interessante para nós Nação cabo-verdiana e para eles Nação marroquina. E até penso que será inevitável um junta mão, mais ano menos ano.
Sem sombra de dúvida que todas as agendas são importantes para todos nós de todas as línguas, tons de pele, credos e paladares.
Mas há qualquer coisa de extraordinário e muito primata em todos nós, povos e seus legítimos representantes, uma atitude muito antiga que é a de fazer de conta que não estamos no mesmo barco.
Daí a importância de sobrepor o acessório (a afirmação) ao importante (a sobrevivência futura).
Porquê uma comitiva de 300 ilustres vassalos e não 600 ou 2000? Porque 300 é um número que se ajusta à nossa incapacidade de resposta como País diminuto mas com acesso, tal como Marrocos, à discussão europeia.
Isto incomoda o poderoso monarca e parece incomodar, por estranho que pareça, alguns filhos da Nação. Ao primeiro compreende-se porque a Sul há alguém que também tem referências europeias, mas aos segundos é de pasmar. Que o diga a maioria dos comentários à notícia. Vale a pena ler.
O Rei em Cabo Verde vai nu.

sábado, 13 de junho de 2009

Purgueira

O que se discute no Brasil. Por cá estamos em campanha política, não há tempo para essas coisas.

sábado, 6 de junho de 2009

Pobres... Até De Espírito.

(fotos da revista "Uhau!")

Quando uma Universidade não sabe o que fazer com a cabeça fá-lo com o resto do corpo. É fértil a criatividade e a imaginação da pobreza. Não ligues Jean Piaget, apenas faltam Magníficos como tu, descansa. Como sabes, tudo muda. Mas agora é o tempo dos medíocres, da ignorância e do mau gosto.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Atrás Dos Tempos...

Em 1555 deu-se início à construção da Sé Catedral na Cidade Velha cujas ruinas se vê na imagem. 454 Anos depois, colocam-se os primeiros candeeiros solares para iluminação pública. Como será este lugar daqui a 454 anos? Não sei, estou de passagem pela vida e, por isso, sem tempo para imaginar.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Construindo


Falta pouco para a cobertura